Texto que pariu

Sinto ele mexendo aqui dentro
Quer sair, parir e chorar para ser ouvido
Vai se alimentando de minhas impressões
Dos amores ressecados pela ilusão
Do desejo de desejar

Embrião de letras
Soletra no espaço em que podes me olhar
Agora que me lês, leitor
Minha mensagem é quente de tão fresca
Estacionada, latejante, pujante a explodir

Não pretendo que me aprecies
Pois me reconheço sem regras e estética
Talho meus textos com um canivete despretencioso
Quero mais que isso, quero estar letra a cara
Você me lendo e eu te olhando fundo nos olhos

Solto o verbo a te encontrar
Dessa nossa fusão nada espero
Senão passear dentro de tua alma
E armar algum pensamento
Te alimentar com algum fragmento
E te deixar esse texto que pariu.

Claus Jensen

Blumenau/SC | 09/10/2010 - 2h45

Ontem a noite

Não sei o que devo sentir
Porque o que sinto, incomoda.
Foi assunto de meus quereres
Na intensidade que já me proibi de ter.

Espero sua vinda sem esperanças de tê-la
Sua passagem apenas fez valer respirar esse dia
Essa sua beleza interna dá brilho à externa
Returbinou aquele desconforto no estômago

Onde será nossa linha divisória,
Entre a carência e uma fagulha de sentimento?
Aliás, me desculpe por tudo isso.
Sei que construo uma bomba dentro de mim.

Se você tivesse previsto que eu moro no meio de um oceano
Sobre uma casa de palafitas cheia de cupins
Não teria entrado nela para desequilibrá-la.
Mas agora, você já é minha tempestade e bonança.

Claus Jensen
Blumenau/SC | 25/7/2010 - 12h


Para se inspirar enquanto lê a poesia: John Illsley - Streets of Heaven


Certezas

Estava certo de algumas coisas,
Que depois me deixaram em dúvida.
E descobri que estava errado no que era certo.
O que sabia era que a dúvida
É a única forma de descobrir certezas.

Certeza é uma palavra mentirosa
Porque nem de que amanhã estaremos aqui
Há absoluta garantia.
É mutante e paralisante
Porque nos rendemos à uma única resposta.

Descobri que não acreditava mais na fé ancestral
Descobri que o amor vive no dia a dia, não no altar
Descobri que o saber não está nos mais cultos
Descobri que para realizar sonhos não posso acreditar só no que vejo
Descobri que os futuros mortos ainda posso sentir vivos agora ao meu lado.

Devo à falta de certeza as novas músicas que curti
Às novas pessoas que amei, mesmo que as perdi
Às risadas e cantorias daquele porre de que tudo esqueci
Ao abraço de meu filho, cujas contas pelo seu sustento não fiz
Tem muita coisa que fiz e tinha certeza que não faria.

Claus Jensen
Blumenau/SC | 20/7/2010 - 20h45

Ex-vazio

Hoje, apenas o ar
O invisível, a pulsar
Nada que se possa tocar
Só sentimentos a vazar

Agora, esse maciço vazio
Me tira a cor da vida
Pesa o insuportável
Amarra meu próximo passo

É ao mesmo tempo um sino que toca
Na vila chamada existência
Convocando meus seres à guerra
Contra a inércia e a autodestruição

Amanhã, desejarei novos territórios
Colorirei minha alma de inspirações
Costurarei asas de risos para os pesos
E leve, caminharei para a conquista de minha paz

Claus Jensen
Blumenau/SC | 1/7/2010 - 2h06

Condenados, escravizados e envenenados.

Acredito nas verdades que eu descobri
Desconfio daquelas embaladas a séculos
Superei o medo de duvidar 
Precisei delas para ter minhas certezas

Lamento as almas condenadas ao inferno
Daquela certeza de que foram escravizadas
Pelo poder sobre sua  mente verde e pueril
Mas que vez ou outra já se sentiu atraída pela luz

O mundo vive a exagerada multiplicação das crenças
Atraem almas que apenas trocam suas algemas
E se vendem aos diabos com asas de anjos
Especializados em consultoria no mercado da fé.

Um dia o homem aprenderá que é ovelha 
Separado para a engorda de um "bom pastor"
Que mantras e o teatro de homens com o "Livro" na mão
É a verdadeira maçã que as serpentes nos envenenam.


Claus Jensen 
Blumenau/SC | 23/6/2010 - 0h30

Corpo

Vem ao mundo, da química do amar ou do desejo
Primeiro células tronco à espera de um molde
Moral, intelectual, familiar e de valores.
Como um balão de sangue
Vai se enchendo dos ares da juventude
Rompe o silêncio da obediência maternal
Sai da jaula moral para o aprendizado experimental
Suas curvas começam a atrair
Já percebe alguns caminhos 
de estudo, profissão, cópula matrimonial.
Se divide em mais vidas
Refaz o processo de ingresso da vida animal
Como o vento e chuva nos Canyons
O tempo molda em sulcos cada parte de nosso corpo
Murchamos, como se a beleza estética
Fosse sugada pela da experiência.
Revivemos o amor da filiação
Na beleza das crianças que saíram de nossas.
E haverá o dia, último, em que o presente divino de viver
deixará nosso corpo, na forma que o conhecemos hoje.
Volto à Terra, à água e ao ar.
Cabe a cada crença explicar onde é esse outro lugar
O universo, como cada célula, vive a se reciclar
Por isso, acredito que eu volto para cá .


Claus Jensen 
Blumenau/SC | 23/5/2010 - 11h10 

Círculos branco e preto


Mesas redondas, agregadoras;
uma é branca plástica e a outra é negra de vidro.
Sobre suas superfícies, alimentos, talheres e copos.
Corpos, sons e energia as circundam como elétrons.
A brasa rubra, outrora árvore, queima e tempera a carne,
caçada a pouco em uma prateleira de supermercado.
O nível dos copos de líquido amarelado fermentado, oscila de máximo à mínimo.
É o combustível para risos e as histórias da semana.
Estou em meu clã urbano,
a aldeia de irmãos não sangüíneos, mas de alma.
E nessa festa de um encontro dominical,
tem os xamãs, que usam seus dons mágicos
para transformar carne e sal em iguaria,
batatas, verduras, farinha e pães no pecado da gula.
Crianças, jovens e adultos fecham esse círculo de vida,
que é alvo na pureza da amizade revivida,
e negra, cor do universo, onde nossos planetas se re-encontram.
Somando em preto no branco, nossas belas diferenças.



Blumenau/SC, 16/4/10 - 13h13